Coraline: A Porta Secreta para um RPG de Horror Fantástico



 Sabe aquele filme que você assiste e pensa: “cara, isso daria um RPG incrível”? Pois é. Coraline e o Mundo Secreto (2009), aquela animação macabra com carinha de conto de fadas psicotrópico, é exatamente isso. Uma aventura completa, com cenário fechado, vilão icônico, ambientação esquisita e uma protagonista que poderia muito bem ser a sua filha (Oi, Maria! o pai escreveu esse texto para você).

Então vamos fazer isso acontecer. Bora transformar Coraline num RPG jogável, com mecânicas, sugestões de sistemas e aquele tempero sombrio de quem cresceu com Labirinto, O Estranho Mundo de Jack, Sandman e as sessões da TV Cultura dos anos 90.

O CLIMA: UM CONTO DE FADAS DE BOTÕES NOS OLHOS

Nada aqui sobre porrada, ou pouca coisa é. É mais sobre desconforto. Coraline cria medo com o estranho, o deslocado, o grotesco que se esconde no que deveria ser confortável. É o sofá da avó que tem dentes. A boneca inocente que é semelhante demais. A casa dos sonhos que vira prisão.

Esse clima é perfeito para aventuras de horror suave e fantasia sombria, com foco em narrativa, escolhas morais e tensão emocional. A graça está nos detalhes: a sombra que se move, a voz doce que mente, o botão onde deveria haver um olho.

SISTEMAS QUE FUNCIONAM COM ESSA ESTÉTICA

Cairn / Into the Odd / Knave

Minimalistas, elegantes e perfeitos para exploração. Sem fichas gigantes ou combates épicos — aqui, a esperteza vale mais que espada. Perfeito para jogadores que curtem improviso, descobertas e tensão crescente.

Mörk Borg (versão infanto-dark)

Pega o espírito gótico e decadente de Mörk Borg e troca os esqueletos por bonecos falantes. A bizarrice reina, a morte é uma metáfora, e o mundo pode literalmente desmoronar ao redor dos jogadores. Poeira, mofo e sonhos quebrados em cada esquina.

 Brindlewood Bay / The Between

Para quem ama investigar o mistério escondido sob o verniz bonito. Com uma mecânica narrativa esperta e leve, dá pra criar uma Coraline investigadora de universos paralelos, lidando com pistas, presságios e entidades sorridentes demais.

Call of Cthulhu (modo suave)

Troque os cultistas por avós assustadoras e os Grandes Antigos por mães possessivas. A sanidade continua sendo o preço da curiosidade. Perfeito para uma campanha one-shot onde o “outro mundo” tenta engolir os personagens — por dentro.

MECÂNICAS INSPIRADAS NO UNIVERSO DE CORALINE

 Botões como Marcas de Corrupção

Todo NPC com botões nos olhos está dominado. Interagir com eles exige testes mentais ou de força de vontade. Falhou? Você começa a duvidar de quem é. Literalmente. Pode esquecer memórias, perder habilidades, ou até mudar sua ficha de personagem.

 A Porta e a Chave

Item místico central da campanha. A chave abre portais, mas o destino é sempre incerto. Crie uma tabela randômica com variações do Outro Mundo: mais amigável, mais distorcido, mais sombrio — ou mais sedutor.

Desmanche do Outro Mundo

Cada visita ao Outro Mundo o corrói. Após cada jornada, role um dado: quanto menor o resultado, mais o cenário se desfaz. Pode sumir uma parede, inverter a gravidade ou surgir uma versão distorcida de um aliado.

Bonecos Espiões

NPCs que recebem versões em miniatura de si mesmos estão sendo observados. A “Outra Mãe” sabe onde estão, o que fazem. Use isso como relógio de tensão: se o boneco for completamente transformado, o personagem começa a virar outro.

ARQUÉTIPOS JOGÁVEIS ESTILO CORALINE

  • A Curiosa
    Impulsiva e teimosa. Sempre vai abrir a porta errada. Recebe bônus para investigações e resistir à mentira.

  • O Protetor
    Tem um vínculo emocional forte. Pode resistir à manipulação emocional e proteger outros jogadores.

  • O Espelho
    Alguém que já foi tocado pelo Outro Mundo. Carrega segredos, pistas e talvez... algo pior.

  • O Cético
    Duvida de tudo e todos. Imune à ilusão por um tempo, mas pode demorar demais pra agir.

CONCLUSÃO: TÁ TUDO AÍ, SÓ JOGAR

O mundo de Coraline é pequeno, mas completo. Você tem portais, realidades alternativas, uma antagonista memorável e um tema forte: identidade, liberdade, ilusão e amor real.

Transformar isso em RPG não só é possível — é uma baita ideia. Dá pra fazer uma campanha fechadinha em 3 ou 4 sessões, ou usar o conceito de "Portas Para Outros Mundos" como base para uma campanha inteira, tipo Planescape versão Neil Gaiman. Com o tom certo e o grupo certo, vira uma das experiências mais estranhas e inesquecíveis que você vai jogar.

EXTRA: FONTES DE INSPIRAÇÃO PRA MISTURAR COM CORALINE

Se você curte o clima e quer adicionar mais referências ao seu jogo, aqui vão algumas sugestões pra turbinar a estética Coralineana:

 Filmes

  • O Labirinto do Fauno (Guillermo del Toro)

  • Cidade dos Sonhos (David Lynch)

  • A Casa Monstro

  • Silent Hill

  • O Estranho Mundo de Jack

  • Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado

  • A Noiva Cadáver

 Livros & HQs

  • Sandman (Neil Gaiman)

  • Locke & Key (Joe Hill)

  • Monstress (Marjorie Liu)

  • Lobisomem: O Apocalipse (como mood alternativo)

  • Alice no País das Maravilhas (a versão perturbada, claro)

 Games

  • Little Nightmares

  • Fran Bow

  • Inside

  • Oxenfree

  • Alan Wake 2

Pronto. Agora é só reunir o grupo, apagar as luzes, colocar uma música esquisita de caixinha de música ao fundo... e abrir a porta.

Comentários

horror rural, horror fantastico são pequenas obsessões minhas em períodos recentes, tanto que estou consumindo como posso material de dolmenwood, não apenas isso mas o modificando para o meu blog para que eu possa usar mais tarde, existe ate um pequeno texto sobre como os shide (fadas) são uma manifestação do medo da floresta

https://cavernadraconica.blogspot.com/2025/07/masmorra-baguncada_25.html

Deixei um link caso se interesse em dar uma olhada

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