O Culto dos Abscindidos

O Culto dos Abscindidos e os Santos Vestígios

“Se tua mão te faz pecar, arranca-a e joga fora. Se teu olho te faz pecar, arranca-o e joga fora.”

Para muitos, o Culto dos Abscindidos é apenas mais uma seita de fanáticos mutilados, prontos para abrir sua própria carne — ou a de seus inimigos — em nome de uma divindade esotérica que chamam de O Etéreo. E talvez fossem só isso mesmo… se não fosse o poder real de seus sacerdotes, a brutalidade de seus soldados, e o alcance político de seu sumo sacerdote, Ahmad Zaher.

A doutrina dos Abscindidos prega que o corpo físico, atrelado ao Plano Material, é uma prisão de desejos e fraquezas. Fome, dor, prazer e cansaço são as correntes que mantêm a alma acorrentada à lama da existência carnal. O objetivo do culto é simples e aterrador: libertar-se da carne. E cada novo passo rumo à "ascensão" é pago com um pedaço do próprio corpo.

A mutilação é a prática central do culto, e é tida como sinal de fé e evolução espiritual. Em cidades onde os Abscindidos têm poder, clérigos do culto assumem funções jurídicas e aplicam sentenças físicas aos condenados. Ladrões perdem as mãos. Traidores, os pés. Espiões têm os olhos arrancados. Estupradores... bem, você entendeu.

As células do culto operam como enclaves teocráticos independentes. Em locais onde fincam raízes, não é incomum ver os Abscindidos suplantando o governo local e tomando os templos das demais religiões — às vezes por conchavos, outras vezes à espada.

Mas a expansão e influência não são o verdadeiro objetivo do culto. São apenas o meio. O verdadeiro fim só é conhecido por Ahmad Zaher — que, antes de ser sumo sacerdote, foi Ahmad, o desertor.

A Origem de Zaher e a Voz no Deserto

No passado, Ahmad era apenas o capitão de um destacamento enviado para esmagar um levante nas dunas do sul. Sua arrogância e estratégias mal calculadas levaram sua tropa ao fracasso. No campo de batalha, perdeu um braço e uma perna ao ser atingido por um feitiço inimigo. Cego pela dor, abandonou seus soldados e fugiu a cavalo pelas areias.

Ferido, exausto e à beira da morte, Ahmad encontrou um oásis cercado por ruínas ancestrais — os restos de uma civilização há muito desaparecida, da qual se dizia que fora aniquilada por sua sede de poder arcano. Foi lá que ele ouviu a voz. No início, achou que eram os fantasmas de seus soldados mortos. Mas não era. Era O Etéreo.

O Etéreo, revelou-se Ahmad, fora o rei-arquimago daquele império perdido. Um ser de poder vasto, que buscou a apoteose através de um ritual arcano que falhou de forma catastrófica: sua alma — e a de seu povo — foi exilada para um plano de sombras. Seus corpos morreram. Suas consciências, condenadas a um limbo onde os mais fracos foram apagados com o tempo. Mas o rei permaneceu. Mais poderoso, talvez. Mas sem corpo. Sem mundo. Sem forma de retornar.

Até Ahmad.

Santos Vestígios: Guerreiros da Carne Perdida

O verdadeiro plano do Culto dos Abscindidos é construir um novo corpo para O Etéreo. Um corpo perfeito. Um receptáculo divino. E para isso, Ahmad Zaher vem reunindo peças — partes humanas arrancadas em nome da fé, ofertadas em ritual.

A versão mais poderosa do ritual é guardada apenas por Zaher. Mas aos sacerdotes mais leais, ele confiou uma fórmula menor, usada para criar seus campeões sagrados: os Santos Vestígios.

Esses cavaleiros são montagens profanas feitas de membros amputados de pecadores. Após preparados, seus corpos são insuflados com fragmentos da essência d’O Etéreo — criando um guerreiro santo, consagrado pela dor e animado por uma fé que não é sua.

Dentro do culto, os Santos Vestígios são tidos como exemplos vivos de transcendência. Mas fora dele, são chamados com horror e escárnio de Carcaças Sagradas — um apelido pejorativo, sussurrado por aqueles que não querem atrair a atenção de seus ganchos ensanguentados.

Essas criaturas não são eternas. A presença do Etéreo consome sua matéria. Com o tempo, degradam-se em ferocidade e loucura. Quando a sanidade e a estabilidade cedem, tornam-se bestas ensandecidas até colapsarem em um frenesi de sangue e dissolução.

Para o culto, esse destino não é uma falha. É glorificação. É o fim último da carne.


Ganchos de Aventura

  • O Protegido Amputado: Um NPC importante para os personagens foi capturado pelos Abscindidos e será sacrificado em breve. Talvez ele conheça um segredo vital. Talvez esteja ligado a uma Vantagem (Aliado, Patrono, Mentor) ou Desvantagem (Protegido Indefeso). A missão é clara: salvar o que sobrou.

  • Missão nas Ruínas: Os personagens são contratados por uma célula do culto para explorar ruínas esquecidas. Lá, descobrem rebeldes sobreviventes — incluindo um ex-soldado que Ahmad abandonou e que agora busca vingança.

  • A Carne do Deus: Ahmad Zaher está prestes a concluir o ritual que criará um novo corpo divino para O Etéreo. Profecias indicam que esse renascimento trará o fim do mundo — e os jogadores talvez sejam os únicos capazes de impedi-lo.

  • Ascensão de Zaher: Seduzido pela ambição, Zaher deseja repetir o ritual que transformou o Etéreo em entidade, mas desta vez usá-lo para si mesmo. Nem todos no culto concordam. Um cisma sangrento está prestes a começar — e os jogadores podem ser a faísca ou o freio.

  • O Santo em Ruína: Um amigo próximo dos personagens tornou-se um Santo Vestígio. Ele ainda luta contra a loucura e procura uma forma de deter sua degradação. Clérigos do culto e outros Vestígios o consideram um herege e partem em caçada.

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