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RPGTober – Dia 3: Crocante

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  O que significa ser crocante (ou crunchy )? Você provavelmente já ouviu alguém dizer que um jogo é “muito crocante”. Ou talvez tenha visto esse termo jogado por aí nas redes: “Ah, esse sistema é bem crunchy” , “prefiro um RPG mais narrativo, menos crocante” . E aí você pensou: peraí, crocante como? Tipo um Cheetos? Calma, vem comigo que eu explico. Estamos falando de comida? Antes de se tornar um termo técnico de game design, crunchy — traduzido aqui carinhosamente como “crocante” — era só um adjetivo pra textura de comida. Algo que faz “crec-crec” quando você morde. A batata frita certa, o bacon bem feito. Aquele sabor inconfundível do carboidrato, fritura e sal. Se você tem pressão alta e triglicérides, cuidado, continue lendo por sua conta e risco. Na cultura pop, “crocante” ganhou outro sentido: algo que impacta , que é delicioso de acompanhar . Uma cena de ação bem coreografada, um diálogo afiado, uma ilustração tão boa que parece que você sente o cheiro da tinta. É o...

RPGTober – Dia 2: Simples

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KISS, RPG e a arte de não complicar o desnecessário O segundo dia do RPGTober trouxe um tema que, confesso, me deixou com mais pulgas atrás da orelha do que o de ontem ( Dinâmico ): o tema Simples . Por quê? Porque, ironicamente, falar sobre simplicidade é uma das tarefas mais difíceis. Sempre que pensamos em “manter simples”, a mente já tenta complicar: “simples demais não fica raso?”, “como fazer algo simples e, ainda assim, divertido?”, “será que o simples não vai ficar… bobo?”. E, no caso do RPG, existe uma armadilha extra: o exagero na criatividade . A verdade é dura, mas libertadora: a maioria das campanhas de RPG não morre por falta de ideias. Elas morrem soterradas no excesso. Sim. Você leu certo. O que mata é excesso. Agora vamos desenvolver melhor isso. O problema de começar grande demais Quem nunca viu isso acontecer? O mestre chega todo animado para a primeira sessão. Ele preparou um bloco de anotações com genealogias de reinos, intrincados diagramas de facções cujas sig...

Como Tornar Sua Mesa de RPG Mais Dinâmica

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Hoje, 1º de outubro, começa o RPGTober. Como esse é meu primeiro ano participando e talvez eu não tenha entendido exatamente como funciona, vou me ater ao que eu tenho feito nesse blog nos últimos meses: trazer dicas textuais, com base em alguns livros (já mencionados em post anteriores) e experiências pessoais.  Abaixo segue a lista para aqueles que desejarem ingressar no RPGtober: #RPGTOBER #Dinâmico Nada é broxante em uma sessão de RPG do que uma aventura arrastada, cheia de pausas desnecessárias e descrições que não levam a lugar nenhum. Jogar RPG é uma experiência coletiva, e o dinamismo é a chave para que todo mundo fique envolvido, do começo ao fim da sessão. Mas como colocar isso em prática sem parecer que você está “acelerando” artificialmente o jogo? A resposta está em três pilares: preparação leve, improviso ágil e foco no que importa . Comece com impacto A primeira cena da noite deve ser como a abertura de um filme: algo que prende a atenção imediatamente. Um ataque ...

Encontros Não Tão Aleatórios: Uma Crítica ao Grinding Narrativo

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  A Maldição do Aleatório Se você já jogou RPG por mais de três sessões, já viveu esta cena: o mestre descreve a estrada, a masmorra, o subterrâneo. Você já está com cabeça pensando no que vai fazer quando vencer o vilão, no mistério que o aguarda, no diálogo com um NPC cheio de segredos. Mas, de repente, ele rola um dado. Você escuta aquele barulho característico dos dados rolando, ele olha uma tabela no livro e fala: “Hmm… apareceu um grupo de seis goblins.” . Todos suspiram. O ladino pega um monte de D6 para o ataque furtivo, o guerreiro resmunga “ainda não me curei desde o ultimo combate" e o mago já prepara a magia que ele vai lançar e na dúvida vai de bola de fogo . Pronto: vinte minutos de jogo jogados no lixo, em um combate que não acrescenta nada além de estatísticas. Estes são os encontros aleatórios em seu pior sentido: interrupções. São como anúncios de YouTube que não dá para pular. Pior ainda: às vezes o mestre acha que está criando um desafio, quando, na verdade, só...

A Verdadeira Liberdade no RPG é Criar sua Própria História

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Imagine começar uma campanha de RPG em Westeros. O mestre descreve um salão, taças de vinho e nobres conspirando. Você mal pensa em qual casa nobre vai jurar lealdade e... um jogador já pergunta: "Podemos ser os irmãos Lannister?" A tentação é forte, eu sei. Quem não gostaria de brandir um sabre de luz e se declarar um Skywalker? Ou caçar monstros e tossir com uma voz rouca, imitando Geralt de Rívia? Ou ser um suposto irmão Winchester perdido mas mantendo os negócios da família? O problema é que, quando você joga tentando ser os protagonistas de uma história já escrita, você não está jogando RPG. Você está apenas seguindo um roteiro em uma peça de teatro com um roteiro já pronto. O que pode se provar desastroso, tendo em vista a aleatoriedade das rolagens dos dados. E a verdade é dura e meio difícil de engolir, mas libertadora: essa não é a sua história! A sua história nas sombras dos heróis Vamos usar Star Wars como exemplo. Todo mundo quer ser um Jedi, é quase instintivo. ...

O Show Deve Continuar: Técnicas de Freddie Mercury para RPG

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  No dia 5 de setembro, celebramos o nascimento de um dos maiores artistas que já pisaram no palco da história humana: Freddie Mercury . Carismático, extravagante, genial — Freddie foi mais do que um cantor; um verdadeiro showman e um bardo moderno capaz de alterar o clima de um estádio inteiro com um estalar de dedos e um refrão. Em homenagem à sua vida e legado, trazemos algumas técnicas para 3DET Victory inspiradas em alguns dos seus maiores sucessos. Perfeito para campanhas temáticas, jogos one-shot musicais ou como surpresa épica para aquele jogador que vive interpretando Queen na taverna. Prepare-se para abalar as estruturas do mundo com sua performance! Eu Quero Ser Livre (I Want to Break Free) Requisitos. Nenhum Alcance. Pessoal Custo. 1PM por uso Duração. Instantânea Você se recusa a ser dominado por medo, controle ou magia. Quando sofre as condições Paralisado , pode gastar 1PM para fazer um teste imediato de Resistência (Dificuldade 10) . Se for bem-suc...

A Arma de Tchekhov na sua Mesa de RPG

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Quem já jogou RPG por mais do que algumas campanhas sabe: quando o mestre descreve demais, é bom prestar atenção. Claro, às vezes é só firula, porque talvez o mestre tenha acabado de maratonar A Casa do Dragão e ficou empolgado para descrever uma tapeçaria com dragões bordados em ouro, igual à que viu na série. Todavia, existe uma situação interessante: quando a descrição do item é tão banal que passa despercebida, mas de repente se torna a peça-chave para a resolução da aventura — a diferença entre o sucesso e o fracasso. Esse é o tropo da famosa Arma de Tchekhov. A regra é antiga: se você pendura uma arma na parede no primeiro ato, ela precisa ser usada em algum momento, especialmente no final. No RPG, em meio a tanta descrição de salas, NPCs, monstros e tesouros, a graça está justamente em disfarçar essa "arma", fazendo-a parecer apenas parte do cenário, ali o tempo todo e só eles não viram, até a hora em percebem que a solução bem ali. E acredite: o seu jogador vai vibrar...

A Lâmpada dos Três Enganos

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  Uma aventura para Mestres que adoram ver jogadores suando frio e gaguejando para escolher as palavras certas Todo mestre adora quando os jogadores ficam nervosos e, porque não, suando frios diante de uma situação escabrosa. Pois bem: trago aqui um enredo perfeito para isso — a velha e boa “lâmpada dos desejos”. Só que com uma reviravolta: o gênio não é azul, simpático, cheio de piadinhas e dublado pelo Robbin Willians. É um Ifrit maligno , ardiloso, e que se diverte em deturpar pedidos. O NPC já gastou dois desejos de maneira trágica. Só falta um. E esse último pode ser a chave para salvar o NPC  (ou condenar) todos. O Mercador Azarado Nosso ponto de partida é Arlen Veynar , um mercador fanfarrão e sonhador, daqueles que jura ter sempre exatamente aquilo que o grupo precisa, mas tem uma tendência a exagerar a importância e utilidade dos itens que oferece. Ele achou a lâmpada por acidente e, obviamente, foi incapaz de resistir à tentação. Quem resistiria? Primeiro Dese...

Coraline: A Porta Secreta para um RPG de Horror Fantástico

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  Sabe aquele filme que você assiste e pensa: “cara, isso daria um RPG incrível”? Pois é. Coraline e o Mundo Secreto (2009), aquela animação macabra com carinha de conto de fadas psicotrópico, é exatamente isso. Uma aventura completa, com cenário fechado, vilão icônico, ambientação esquisita e uma protagonista que poderia muito bem ser a sua filha (Oi, Maria! o pai escreveu esse texto para você). Então vamos fazer isso acontecer. Bora transformar Coraline num RPG jogável, com mecânicas, sugestões de sistemas e aquele tempero sombrio de quem cresceu com Labirinto , O Estranho Mundo de Jack , Sandman e as sessões da TV Cultura dos anos 90. O CLIMA: UM CONTO DE FADAS DE BOTÕES NOS OLHOS Nada aqui sobre porrada, ou pouca coisa é. É mais sobre desconforto. Coraline cria medo com o estranho, o deslocado, o grotesco que se esconde no que deveria ser confortável. É o sofá da avó que tem dentes. A boneca inocente que é semelhante demais. A casa dos sonhos que vira prisão. Esse clim...